IVAN SERPA - Gravura Original da Série Bichos, Assinada e Datada 1970

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A OBRA

IVAN SERPA - Gravura Original da Série Bichos, assinada no canto inferior direito e datada de 1970, numerada 26/75 (tiragem limitada a 75 obras), lindamente protegida em vidro duplo com moldura de madeira. Na história de sua trajetória o artista teve  22 Exposições Individuais, 82 Exposições Coletivas além de 103 Exposições Póstumas. 

MEDIDAS: totais, 68x58 cm. e somente a obra, 47x37cm

O ARTISTA

Ivan Serpa (Rio de Janeiro RJ 1923 - idem 1973)

Ivan Ferreira Serpa

Pintor, gravador, desenhista.

Artista plástico e professor, nascido no Rio de Janeiro em 1923, a partir de 1946 inicia seus estudos em arte com o gravador Axel Leskoschek. Em 1947 expõe na divisão moderna do Salão Nacional de Belas Artes.

No início da década de 1950, seu trabalho já se identifica com a abstração geométrica e sua participaão na I Bienal de São Paulo, realizada em 1951, reitera essa opção. Na ocasião, recebe o Prêmio Jovem Pintor Nacional. A partir de 1952 passa a dedicar-se também a atividades didáticas com crianças em cursos de pintura realizados no Museu de Arte Moderna, atividade da qual não se afastará durante toda sua vida. Em 1953 participa da I Exposição Nacional de Arte Abstrata realizada na cidade de Petrópolis. No ano seguinte, juntamente com outros artistas, cria o Grupo Frente, assumindo sua liderança ao longo de seus dois anos de vida. Participa em 1957 da I Exposição Nacional de Arte Concreta no Rio de Janeiro, ano em que recebe o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna. Viveu na Europa entre os anos de 1958 e 1959, quando volta ao Brasil. Participa em seguida da I Exposição de Arte Neoconcreta realizada no Rio de Janeiro.

No início dos anos 1960 realiza algumas experiências no campo da figuração, entre as quais a chamada "fase negra", de tendência expressionista, que se desenvolve num momento de crise política, que culmina com o golpe militar de março de 1964. A partir de 1965 retorna ao abstracionismo geométrico, introduzindo elementos mais ligados à sensualidade das formas, o que inexistira no trabalho de sua fase concreta desenvolvido ao longo dos anos 1950. Participou das mais importantes exposições ocorridas ao longo da década de 1960 como Opinião 65, Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, que reuniu os grandes nomes da geração que emergia nas artes plásticas naquele momento. Ainda nas década de 1960 e no início de 1970 desenvolve trabalhos juntamente com Lygia Pape e Antonio Manuel, e também com Dionísio del Santo, que os reproduziu na técnica da serigrafia.

Recebeu vários prêmios no Brasil e participou de várias bienais realizadas em São Paulo, além de Veneza (1952,1954 e 1962) e Zurique (1960), quando é igualmente premiado. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou algumas retrospectivas de sua obra nos anos 1965, 1971 e 1974.

Um curso de artes só para crianças

O jovem mestre saiu animado e com a cabeça cheia de planos. Acabara de ser contratado pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para dar aulas livres de pintura a crianças que apresentassem talento e interesse pela arte.

Para Ivan Serpa &ndash o mestre de quem falamos &ndash não era tudo o que ambicionava, mas já era um bom começo. Com 29 anos, iniciava a carreira ligando seu nome a uma instituição ainda nova, mas que lutava para romper com a tradição acadêmica, criando um espaço para a renovação.

Com efeito, o MAM tinha, em 1952, apenas quatro anos de existência. Uma existência mais no papel do que efetiva. Fundado em 1948 por um grupo de colecionadores, não possuía acervo nem sede própria. Uma agência bancária do Rio de Janeiro cedeu espaço e as obras expostas também foram emprestadas pelos homens que lideravam o empreendimento.

Em 1951, assumiu a presidência da instituição a Sra. Niomar Muniz Sodré Bittencourt, cujo marido, Paulo Bittencourt, era diretor e proprietário do Correio da Manhã, um dos mais prestigiosos jornais em circulação na cidade.

Foi então que as coisas começaram a mudar. O Ministro da Educação e Cultura, Simões Filho, cedeu um amplo espaço aberto, por entre as colunas de sustentação do Palácio da Cultura. Oscar Niemeyer encarregou-se do projeto que, em poucos meses, transformaria a área num dos mais acolhedores ambientes artísticos do Rio.

O novo museu foi inaugurado em 15 de janeiro de 1952 com uma polêmica exposição, dando a público o que de melhor se fazia em arte dentro e fora do país.

Dentre as obras expostas, se achavam também aquelas premiadas no ano anterior pela 1ª Bienal de São Paulo. E dentre estas, o quadro Formas, do pintor Ivan Serpa, o que motivou o convite, prontamente aceito por ele, para dar aulas no Museu.

Vencendo a força da inércia

Para se compreender bem a importância do trabalho que se iniciava, é preciso lembrar que, até a década de 40, a arte moderna era tocada no peito e na raça, com muitos artistas promissores e outros com nome já feito, mas nenhuma instituição de peso que orientasse e coordenasse os movimentos.

Em 1948, industriais do Rio de Janeiro e de São Paulo, tomaram a dianteira para criar essa estrutura: no Rio de Janeiro, liderados pelo colecionador Raimundo Ottoni de Castro Maia em São Paulo, por Francisco Matarazzo Sobrinho (Don Ciccillo), auxiliado por Assis Chateaubriand Bandeira de Melo que, assim como fizera com o MASP, também deu abrigo ao MAM na sede dos Diários Associados, no centro velho de São Paulo. O museu paulistano se inaugurou com a exposição: Do Figurativismo ao Abstracionismo.

No Rio de Janeiro, a instituição ficou a busca de rumo por longos quatro anos. São Paulo, antecipando-se, deu os primeiros passos efetivos: em 1950 selecionou um grupo de valorosos artistas e, pela primeira vez, o Brasil se fez representar na Bienal de Veneza, com tal sucesso que no ano seguinte, na própria sede do MAM-SP se realizava a 1ª Bienal de São Paulo, marca inicial de outras Bienais que, no correr do tempo, se espalharam por todo o Brasil.

Nessa altura, como dissemos, o MAM-RJ, já reoganizado, inaugurou sua nova sede e realizou uma exposição, incluindo entre as obras expostas, também aquelas que já haviam sido premiadas na Bienal de São Paulo.

A década de 50 funcionou, pois, como um divisor de águas, em que venceu-se a força da inércia. Nesse processo, Ivan Serpa teve participação ativa, pelo efeito multiplicador originado de sua atuação no magistério.

O mestre dos grandes mestres

Ivan Serpa nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1923 e, aos 23 anos, iniciou seus estudos com o gravador austríaco Axl Leskoschek. Assimilando bem os ensinamentos do mestre, já no ano seguinte começou a participar das exposições realizadas na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas-Artes. Em 1951, inscreveu-se na 1ª Bienal de São Paulo e conseguiu seu primeiro prêmio, com o quadro Formas.

Lecionando para crianças, no MAM-RJ, com bom retorno em termos de resultados, aceitou a incumbência de ampliar o projeto, organizando um curso livre também para adultos, tendo, entre seus primeiros alunos, Aluísio Carvão (1920) e Décio Vieira (1922-1988).

Uma característica do mestre era o permanente questionamento da arte e dos entraves que tinham de ser removidos para permitir o avanço dos novos pintores que começavam a surgir, alguns deles com enorme potencial, dentro de um exíguo mercado.

Percebendo que o momento exigia união de todos e participação conjunta na abertura do mercado, incentivava-os a transporem os limites das salas de aula, buscando entre si soluções para os problemas com que se defrontavam.

Muitas reuniões se realizaram na casa do próprio mestre. Depois, os alunos começaram a se revezar, cedendo suas próprias casas para os encontros e debates. Por fim, concluiram que chegara o momento para organizar um grupo oficial, que se encarregaria de promover eventos e divulgar seu trabalho.

O Grupo Frente

Por volta de 1954, reuniram-se em torno de Ivan Serpa vários de seus alunos, para a criação de um núcleo de arte, chamado Grupo Frente», cujo nome singular é explicado pelo escritor e poeta Ferreira Gullar, também participante:

Eu tinha mania de escrever poemas em papel. Pegava várias folhas cortadas ao meio, colocava uma capa de papel comum, de embrulho, papel pardo, e grampeava tudo. Costumava andar com aquilo na mão, e como a capa era igual dos dois lados e eu não queria escrever nada, coloquei a palavra frente só para saber de que lado deveria abrir.

Um dia, cheguei com um desses cadernos no curso do Ivan. Lá estavam seus alunos e o escritor Macedo Miranda. Coloquei o caderno sobre a mesa, o Ivan olhou e disse: que coisa legal. Abriu e perguntou: o que quer dizer isto? Eu respondi: nada. A palavra está aí só para indicar por onde devo abrir. Mais tarde Ivan me disse: "sabe, eu vou dar o nome Frente ao nosso grupo ".

O grupo aceitava pintores de todos os gêneros, inclusive figurativistas e, segundo Ivan Serpa, a única condição era romper com as formulas pasteurizadas da velha academia, dispondo-se a questionar a arte e caminhar pelos próprios pés.

Iniciando-se com Aluísio Carvão, Silvio Costa, Vincent Ibberson, Carlos Val, Décio Vieira e outros, foi recebendo contínuas adesões como as de Lígia Clark, Lígia Pape, Cesar Oiticica e Hélio Oiticica.

Na sua curta existência de dois anos, realizou quatro exposições: na Galeria do Instituto Brasil-Estados Unidos (Praia do Flamengo) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro no Itatiaia Country Club de Resende e na sede da Cia. Siderúrgica Nacional, no Rio de Janeiro.

A extinção do «Grupo Frente» foi uma conseqüência natural do crescimento de prestígio de muitos de seus participantes, os quais passaram a encontrar condições de prosseguir na luta, cada um por seu próprio caminho.

Primeiro os outros, depois ele próprio

Ivan Serpa não teve vida longa. Faleceu em 1973, com 49 anos de idade. Sua carreira, desde a estréia no Salão Nacional de Belas-Artes até a morte durou apenas 25 anos. Trabalhando incessantemente, realizou uma vasta obra, participou de um sem número de exposições e deixou patente sua qualidade de artista.

Mas foi no ensino, talvez, que ele realizou a parte mais importante da missão que teve em vida. Como professor do curso de pintura livre do MAM-RJ, formou inúmeros artistas que se projetaram no cenário nacional e pelo menos um deles, Aluísio Carvão, seguiu-lhe os passos, vindo a lecionar na mesma Instituição onde aprendera, com o mestre, os fundamentos da pintura moderna.

Ivan Serpa, o professor, não era um burocrata em busca do salário. Era um mestre, na melhor acepção da palavra. Dotado de uma inquietação experimental, não aceitava qualquer resultado como a palavra final, mas sim como o início de uma nova busca. Essa inquietação, ele a transmitiu aos alunos, ensinados que foram a procurar sempre novas alternativas que os diferenciassem dos demais.

Esse efeito multiplicador foi a grande contribuição deixada para as artes plásticas no Brasil. A um artista, é consagrador ter sido um discípulo de Ivan Serpa. Ao mestre, é um prolongamento da própria vida na arte daqueles a quem ensinou os primeiros passos e, sobretudo, nos quais incutiu o sentimento do inconformismo criativo, propulsionador das grandes mudanças.

Comentário Crítico

Ivan Serpa começa a pintar no início dos anos 1940. A partir de 1946, estuda desenho, gravura e pintura com o austríaco Axl Leskoschek. Neste período, produz muito. Realiza trabalhos figurativos com pouca preocupação temática ou literária. Toma distância das abordagens da pintura acadêmica e do modernismo nacionalista, de artistas como Candido Portinari e Di Cavalcanti, interessa-se pela estrutura da composição e pelo ritmo das formas. Não por acaso, em 1947, realiza sua primeira pintura abstrata: um pequeno guache gestual, ordenado geometricamente. Nos primeiros anos da década de 1950 o interesse pela abstração se torna sistemático. O artista recompõe os temas tradicionais da pintura, como a natureza-morta, utilizando cores puras e formas orgânicas. Em outros trabalhos, decompõe referências figurativas em padrões geométricos.

Em 1951, faz a pintura construtiva Formas, onde demonstra seu interesse crescente pela abstração geométrica. O contato com as obras de artistas concretos como Sophie Taeuber-Arp e Max Bill na 1ª Bienal Internacional de São Paulo irá reforçar estas convicções. Com Formas, ganha o título de Melhor Pintor Jovem nessa Bienal. Ele adere ao concretismo no mesmo ano. Nas telas desaparecem as referências ao mundo real, bem como a relação harmoniosa entre figura e fundo. As obras são feitas com formas geométricas e planas, organizadas matematicamente.

No ano seguinte, torna-se professor da escola de artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. De acordo com o crítico Reynaldo Roels, Serpa é "a alma dos cursos da instituição".1 Leciona para crianças e adultos. No Museu, forma Hélio OiticicaDécio VieiraAluísio Carvão e muitos outros. Segundo o crítico Mário Pedrosa, nestas aulas "se cultiva a liberdade completa de expressão".2 Serpa atua no meio artístico como pintor, professor e animador cultural.

Ele reúne alguns de seus alunos e outros artistas do Rio de Janeiro, como Abraham Palatnik e Franz Weissmann, e funda o Grupo Frente, entre 1953 e 1954. Apesar de não ser um grupo concreto, strictu sensu, o coletivo abriga a produção concreta carioca. No entanto, como a pintura de Serpa, eles não tomam partido dogmático em favor do concretismo. Nas exposições do grupo, participavam, além dos artistas abstratos do Rio, alguns pintores naïf e até um aluno das turmas infantis do MAM/RJ: Carlos Val. Serpa lidera o grupo até a sua dissolução, em 1956.

Nesse momento, seu trabalho segue os princípios construtivos à risca. Suas formas são geométricas e objetivas, realizadas com materiais industriais e texturas neutras. O título de suas séries revela a impessoalidade dos trabalhos. Chamam-se Faixas Ritmadas e Construções. No entanto, dentro deste esquema, Serpa se permite pequenas ousadias. Mais heterodoxo que os concretos paulistas, ele, por exemplo, usa cores "pouco objetivas", como o marrom. Entre o fim dos anos 1950 e começo dos 1960, o trabalho ganha novos contornos. Serpa revê a sua posição concreta e passa a incorporar elementos menos determinados: como gestos, manchas e respingos de tinta. Em 1960, influenciado pelo desenho infantil,3 pinta manchas informes. Com elas, constrói imagens entre a abstração e a figuração. Nessa época, atua como restaurador de livros na Biblioteca Nacional. O trabalho serve como inspiração para a série dos Anóbios, feita entre 1961 e 1962. Nela são sugeridas figuras a partir de pequenas marcas coloridas, dispersas e aparentemente aleatórias.

A partir de 1963, intensifica-se seu interesse pela figuração. Ivan Serpa identifica-se com o expressionismo e desenvolve uma figuração gestual, nos moldes do Grupo CoBrA. Esta produção irá aproximá-lo dos artistas que seriam agrupados sob o rótulo de Nova Objetividade Brasileira. De par com esta nova figuração, realiza trabalhos como sua Série Negra, as séries de Bichos e Mulheres com Bichos. Algumas obras incorporam letreiros e a sobreposição de formas geométricas. A produção é exposta em mostras importantes, como Opinião 65, Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira.

Em 1967, o artista inicia sua série Op Erótica. O trabalho marca seu retorno à linguagem construtiva. Interessado na op art, ele retoma a construção geométrica e os elementos bem definidos. Desenvolve outras séries com essa característica, como Mangueira e Amazônicas. O rigor construtivo é amenizado. As formas se tornam sinuosas e sensuais. As cores são suaves. Essas obras o levaram às Arcas, móveis com formas brancas no seu interior. O trabalho com planos op, dará origem às pinturas Geomânticas, a partir de 1969. Trabalha nestes quadros até 1973, quando falece, com apenas 49 anos.

Notas
1 SERPA, Ivan. Retrospectiva: 1947-1973. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1993. p.23.
2 PEDROSA, Mário. Crescimento e Criação. In: ______. Forma e percepção estética: textos escolhidos II. São Paulo: Edusp, 1996. p.76.
3 SERPA, Ivan. Retrospectiva: 1947-1973. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1993. p.30.

Críticas

"Ivan Serpa é um enamorado da simetria, como tantos artistas modernos de nosso país e de outros meios culturais jovens, como o nosso. Mas, ao mesmo tempo, é fascinado, como a sensibilidade moderna, pelo movimento. Outrora, ele procurava equilibrar esses dois conceitos ou fascínios opostos pelo capricho, pelo acaso, e sobretudo pelo gosto que nele é quase infalível. O concretismo, essa rigorosa gramática que é para o artista extraordinário instrumento de trabalho e uma disciplina fecunda, lhe deu meios arbitrários, menos ocasionais para vencer aquela antinomia. Através dos vários processos de repetição, de progressão e reversão, o pintor consegue alcançar um equilíbrio dinâmico cada vez mais sutil e precioso. Suas últimas telas, que se baseiam como numa decalagem de planos interiores, dentro de vasto esquema simétrico, respiram felizes e sóbrias, sem cair no vazio ou no insignificante em que, por vezes, cai o pintor, quando se limita, por amor à simplicidade, a expor o problema plástico que tem em mira, na tela ou no muro, sem na verdade resolve-lo".
Mario Pedrosa
PEDROSA, Mário. Serpa, mostra-despedida. In: ______. ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. São Paulo: Edusp, 1998. 429 p., il. p&b. p. 303. [texto publicado originalmente no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 08.04.1958].

"Certos artistas exigem o conhecimento mais numeroso de seus trabalhos, para a compreensão da obra que propõem, assim como da conduta que assumem. Não podem ser mensurados e analisados por único exemplo. Para eles, a versatilidade corresponde, sim, a uma efetiva participação do sentimento de contemporaneidade, e tal se refletirá no próprio percurso. (...) A temática de Ivan Serpa é resultado de um processo de curiosidade intelectual. . . buscar valores plásticos nos territórios mais diversos da expressividade humana (...) cambiando esses valores espontâneos para uma construção plástica consciente e racional. Trabalhava gestualmente. . . gesto que é fruto de toda uma vida de pintura, comandado pela sapiência do artesão e pela emocionalidade do artista".
Clarival do Prado Valladares
VALLADARES, Clarival do Prado. [Texto para Exposição Comemorativa do IV Centenário da Cidade, no MAM/RJ, março de 1965.] In. LAKS, Sergio (coord.). Gravura moderna brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: MNBA, 1999. p. 30.

"A obra de Ivan Serpa foi até agora, em quinze anos de trabalho, um fenômeno de periodização. Nenhum pintor brasileiro conheceu neste século e nesse prazo variações e rupturas de conteúdo e forma tão radicais. Mesmo nos que o conheciam melhor, as antinomias espirituais de sua arte provocavam o maior sentimento de surpresa tornando-se, para os que esquecem fácil sua alta categoria, meramente um protótipo de artista contraditório, sujeito ao impacto freqüente das induções externas. E não há dúvida que ele se tem colocado em perspectivas diversas e até antagônicas. Ao oposto do artista concentrado no problema ideal e convergente, Serpa exprime uma situação dissociativa da personalidade e do meio nas suas opções mais dramáticas. Desviando-se do formalismo racionalista que seguia sem exteriorizar nenhuma perturbação, a um certo momento começou a dar vazão às suas reações representadas, fossem elas incoerentes em relação a esse passado fascinado pelos conceitos absolutistas".


Walter Zanini
AYALA, Walmir (org.), CAVALCANTI, Carlos (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos - Q - Z. Brasilia: MEC: INL, 1973. v. 4, (Dicionário especializado, 5), p. 366.

"(...) Como artista, situou sua obra nos extremos da crise e da construção, tendo sido, em fases diferentes, expressionista, informal e geométrico. Chegou mesmo a buscar o entendimento entre uma figuração crítica e o rigor construtivo, assim como fundiu, numa série de desenhos em preto-e-branco, o ótico e o erótico. Premiado como o melhor artista jovem brasileiro na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, recebe, ali, o impacto do concretismo suíço, que o leva a exercitar, em sua pintura, ritmos precisos e lineares cujos intervalos e variedade lembram uma pauta musical. Inventor e artesão, explora a seguir, em colagens a alta temperatura, a interpenetração ou desmaterialização de espaços e a transparência luminosa das cores. Contemplado com a viagem à Europa no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1957, muda de rumo pela primeira vez, sob pressão do informalismo. Pouco a pouco, entretanto, emergem das manchas figuras dramáticas, a lembrar o universo crítico e caótico dos Cobras europeus. A sua ´fase negra´, que antecede aos acontecimentos políticos de 1964, tem, segundo Hélio Pellegrino, ´um explosivo poder de denúncia e de contestação social´. Contudo, já a partir de 1967, com sua fase amazônica, somando um colorido brasileiro e uma sensualidade orgânica ou barroca, retoma o veio construtivo, do qual não mais se afastará. Surgem, então, soluções originais, de caráter ótico ou simplesmente geométrico que resultam, invariavelmente, num jogo sutil de espacialidades poéticas".
Frederico Morais
MORAIS, Frederico. Vertente Construtiva. In: Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. São Paulo: Júlio Bogoricin, 1986, p. 132.

22 Exposições Individuais

82 Exposições Coletivas

103 Exposições Póstumas

Fonte: FGV CPDOC, Pitoresco, Itaú Cultural

 

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