LASAR SEGALL - Mangue - Portfólio Com 45 Pranchas de Desenhos e Gravuras da Temática Prostituição

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A OBRA

Obra com 45 pranchas com desenhos e gravuras do artista Lasar Segall, homenagem à memória do artista no vigésimo aniversário de sua morte, com textos de Jorge de Lima, Mario de Andrade e versos de Vinícius de Moraes. Reedição de 1977 do trabalho original de 1943, numero 0637 de uma tiragem de 2000 exemplares. As pranchas impressas estão em muito bom estado de conservação, alguns suportes das pranchas e página de rosto com algumas marcas do tempo, capa apresenta desgastes conforme imagem.  


MEDIDAS: cada suporte 35x25cm com imagens de tamanhos variados e portfólio capa dura, 36,5x27cm



O ARTISTA
 

Lasar Segall (Vilnius, Lituânia, 18891 - São Paulo, São Paulo, 1957). Pintor, gravador, escultor, desenhista. De origem judaica, inicia estudos de arte, em 1905, na Academia de Desenho do mestre Antokolski, em Vilna, na Lituânia.

Muda-se para a Alemanha em 1906 e estuda na Escola de Artes Aplicadas e na Academia Imperial de Belas Artes, em Berlim. Viaja para a cidade de Dresden, onde freqüenta a Academia de Belas Artes. Amplia seu contato com a pintura impressionista e realiza, em 1910, a primeira mostra individual na Galeria Gurlitt.

No final de 1912, vem para o Brasil e no ano seguinte expõe em São Paulo e Campinas. No mesmo ano retorna à Europa. Inicialmente, realiza uma pintura de derivação impressionista, com influência de Jozef Israël e de Paul Cézanne (1839-1906).

A partir de 1914, passa a interessar-se pelo expressionismo, desenvolvendo-se plenamente nessa estética em 1917. Em 1919, em Dresden, funda com Otto Dix (1891-1969), Conrad Felixmüller (1897-1977), Otto Lange (1879-1944) e outros, o Dresdner Sezession Gruppe 1919, grupo que agrega artistas expressionistas da cidade. Em 1921, publica o álbum de litografias Bübüe e, em 1922, o Erinnerung an Wilna - 1917 com águas-fortes. Volta ao Brasil, onde fixa residência em São Paulo, no ano de 1923.

Na capital paulista, Lasar Segall é destaque no cenário da arte moderna, considerado um representante das vanguardas européias. No ano seguinte, executa decoração para o Baile Futurista do Automóvel Clube e para o Pavilhão Modernista de Olívia Guedes Penteado (1872-1934). É um dos fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), em 1932, da qual se torna diretor até 1935. Dez anos após sua morte, em 1967, a casa onde morava, na Vila Mariana, em São Paulo, é transformada no Museu Lasar Segall.

Análise

Lasar Segall viaja para a Alemanha em 1906, onde freqüenta a Academia de Belas Artes de Berlim, na qual predominam tendências ligadas aos movimentos impressionista e pós-impressionista. No quadro Sem Pai, 1909 as pinceladas livres lembram o impressionismo, porém a obra tem uma atmosfera sombria, reforçada pelos tons escuros da paleta e destaca-se pela caracterização social e psicológica dos personagens. Em 1910, Segall estuda na Academia de Belas Artes de Dresden. Passa a adotar tons mais claros, embora permaneça a tendência ao monocromatismo, característica de toda a sua produção, como, por exemplo, em Leitura (1914). Revela admiração pela obra de Paul Cézanne, principalmente pelo aspecto construtivo da pincelada, como podemos observar em Violinista (1912).

Seu primeiro contato com o Brasil ocorre em 1913, quando expõe em São Paulo e em Campinas, retornando a Dresden no mesmo ano. Para a historiadora Claudia Valladão de Mattos, a partir de 1914, o artista revela interesse pelo expressionismo, busca uma nova linguagem pictórica e uma caracterização psicológica mais aguda para suas figuras. A pintura de Segall, sob o impacto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), reflete a preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano. Seus quadros são estruturados por meio de planos construídos em diagonais e apresentam uma tendência à geometrização, com o predomínio de formas triangulares. Segall utiliza cores escuras e contrastantes, como no quadro Aldeia Russa (1912).

Em 1918, viaja para Vilna, sua cidade natal, fato que marca sua obra, por reforçar a identificação com algumas questões judaicas que se tornam importantes para sua experiência artística. Retorna a Dresden no mesmo ano. Substitui as cores mais vivas de seu primeiro momento expressionista por tons mais sóbrios, obtidos por meio de camadas sucessivas de tinta, em quadros como Kaddisch - Reza para os Mortos (1918) e Os Eternos Caminhantes (1919).

Seus quadros nascem num ambiente artístico marcado pelo cubismo e pela segunda fase do expressionismo alemão, mais aderente a uma aproximação realista da figura, que inclui artistas como George Grosz (1893-1959) e Otto Dix. Entretanto, em comparação às cores vivas utilizadas por esses artistas, as obras de Segall têm caráter melancólico ou lírico e são trabalhadas em tonalidades sóbrias, com predomínio de ocres, cinza, negros e violetas. A gama cromática alude à tristeza em trabalhos como Pobreza (1921), no qual a construção em formas angulosas triangulares, utilizada anteriormente, cede lugar a linhas mais arredondadas e a figuras que apresentam uma deformação expressiva, com cabeça e olhos enormes.

Em 1923, Lasar Segall muda-se para o Brasil, onde tem contato com os jovens modernistas. Nos primeiros trabalhos realizados no país, revela um deslumbramento pela luz e pelas cores tropicais. Sensibiliza-se não apenas com a paisagem mas também com o ambiente artístico brasileiro: sua produção mantém diálogo com obras de Tarsila do Amaral (1886-1973) , e de outros artistas locais. Nos quadros realizados logo após a chegada ao Brasil, a paleta de Segall se transforma. Os temas (mães negras, paisagens, favelas) são pintados em espaços abertos, com cores claras e luminosas. Realiza várias obras nas quais acentua o drama dos marginalizados pela sociedade. São desse período os quadros: Menino com Lagartixas (924) e Colina Vermelha (1926).

Reside em Paris entre 1928 e 1932. Nessa época, produz obras com motivos brasileiros e também utiliza temas recorrentes, como o da emigração. O colorido vibrante de suas telas dá lugar a uma luz mais pálida e mais suave. Os quadros Família do Pintor e Maternidade (ambos de 1931) apresentam uma superfície mais espessa, que tem um paralelo com as esculturas que o artista começa a fazer. Segall passa a estruturar as composições por meio da mancha cromática e a linha não é mais tão predominante em suas obras. A experiência com a escultura contagia os tons e a superfície da pintura, as figuras adquirem volumes e aspectos mais escultóricos. As cores tornam-se terrosas, marrons, cinza, ocres, como nos quadros Mãe Negra (1930) e Casa na Floresta (1931).

A partir de 1935, pinta paisagens de Campos de Jordão, de cromatismo muito refinado. Sua obra adquire aspecto de matéria densa, com uma cor muito peculiar. Os temas ligados a dramas humanos permanecem em quadros de grandes dimensões: Navio de Emigrantes (1939/1940) e Guerra (1942), entre outros. Na década de 1950, a arte de Segall revela mais liberdade plástica, aproximando-se da abstração, por exemplo, em Floresta Crepuscular (1956). Nessa obra a natureza é a inspiração para os suportes verticais, nos quais se estabelece um sutil estudo de luz e cor.

Ao longo da carreira, dedica-se a várias técnicas de gravura. Em seus primeiros trabalhos, explora o uso das sombras, acentuando o claro-escuro. Para Claudia Valladão ocorre certo descompasso entre a produção gráfica de Segall e sua pintura no período entre 1914 e 1916. O artista, nas gravuras, se afasta da estética impressionista, em trabalhos como Cabeças (1914), o que não ocorre em sua pintura, que passa por uma fase de transição. Em 1918, o artista produz cinco litografias inspiradas no conto Die Sanfte [Uma Doce Criatura], de Dostoievski (1821-1881). Elas representam ponto alto em sua produção, pela extrema concentração e simplificação das figuras, concebidas em formas geométricas, pelo traço econômico e pelo jogo que o artista estabelece entre formas e vazios. Na série Mangue (1926/1929), realizada no Brasil, aborda o tema da prostituição; predomina um clima de tensão, estabelecido pela presença de elementos como persianas e cortinados ou por ambientes opressivos onde se situam os personagens. A série Emigrantes (1927/1928) possui uma atmosfera mais amena, surgem espaços abertos com a representação do céu e do mar.

Os desenhos são importantes na produção de Segall e, como na gravura, apresentam temas recorrentes como o universo de desfavorecidos e marginalizados pela sociedade. O artista confere a suas figuras deformações expressivas e situa os personagens em espaços que os oprimem, o que gera um clima de tristeza e abandono.

O humanismo, revelado pela preocupação com a violência, a miséria e as injustiças sociais, e certo caráter lírico estão presentes em toda a sua carreira. Segall aborda temas universais, expressando-os com emoção, por meio da cor em sua pintura ou pelo jogo entre linha e vazio em suas produções gráficas.

LASAR Segall. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8580/lasar-segall. Acesso em: 02 de abril de 2023. Verbete da Enciclopédia.

ISBN: 978-85-7979-060-7

 


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