A OBRA
Bela escultura cinética em acrílico do artista Abraham Palatnik, representação de figura de vaca holandesa, assinada. Em muito bom estado de conservação.
MEDIDAS: 17x10cm
O ARTISTA
Rio Grande do Norte, Brasil, 1928
Artista cinético, pintor, desenhista. Em 1932, muda-se com a família para a região onde, atualmente, se localiza o Estado de Israel. De 1942 a 1945, estuda na Escola Técnica Montefiori em Tel Aviv e se especializa em motores de explosão. Inicia seus estudos de arte no ateliê do pintor Haaron Avni (1906-1951) e do escultor Sternshus e estuda estética com Shor.
Freqüenta o Instituto Municipal de Arte de Tel Aviv, entre 1943 e 1947. Retorna ao Brasil em 1948, e se instala no Rio de Janeiro. Convive com os artistas Ivan Serpa (1923-1973), Renina Katz (1925) e Almir Mavignier (1925). Com este último frequenta a casa do crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) e conhece o trabalho da doutora Nise da Silveira (1905-1999), no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro.
O contato com os artistas e as discussões conceituais com Mário Pedrosa fazem Palatnik romper com os critérios convencionais de composição, abandonar o pincel e o figurativo e partir para relações mais livres entre forma e cor. Por volta de 1949, inicia estudos no campo da luz e do movimento, que resultam no Aparelho Cinecromático, exposto em 1951 na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, onde recebe menção honrosa do júri internacional. Em 1954, integra o Grupo Frente, ao lado de Ivan Serpa, Ferreira Gullar (1930), Mário Pedrosa, Franz Weissmann (1911-2005), Lygia Clark (1920-1988) e outros.
Desenvolve a partir de 1964 os Objetos Cinéticos, um desdobramento dos cinecromáticos, mostrando o mecanismo interno de funcionamento e suprimindo a projeção de luz. O rigor matemático é uma constante em sua obra, atuando como importante recurso de ordenação do espaço. É considerado internacionalmente um dos pioneiros da arte cinética.
Análise
A partir de 1943, Palatnik tem aulas de desenho, pintura e estética no Instituto Municipal de Arte de Tel Aviv, onde permanece até 1947. Produz pinturas de paisagens, retratos e naturezas-mortas. O crítico Frederico Morais (1936) comenta os desenhos dessa época e conta que nos feitos "a grafite, a linha é ágil, fluente, quase lírica". No desenho a carvão, "o traço negro é firme, sólido, realista, por vezes expressionista".1 Em 1948, regressa ao Brasil, instala-se no Rio de Janeiro e conhece artistas como Renina Katz, Almir Mavignier e Ivan Serpa. Com Mavignier, frequenta a casa do crítico de arte Mário Pedrosa e os ateliês do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. Diz o artista: "O impacto das visitas ao Engenho de Dentro e as conversações com Mário Pedrosa demoliram minhas convicções em relação à arte".2 Palatnik deixa de pensar a qualidade da obra baseada no manejo realista das tintas e na associação da arte com o motivo. Sua pintura e sua escultura abandonam os critérios escolares de composição e partem para relações livres entre formas e cores.
Nesse momento, aproxima-se da arte abstrata. Após pintar algumas telas construtivas, começa, em 1949, a projetar máquinas em que a cor aparece se movendo. Com base nesses experimentos são criadas caixas de telas com lâmpadas que se movimentam por mecanismos acionados por motores. Mário Pedrosa chama as invenções de Aparelhos Cinecromáticos mostrados pela primeira vez em 1951, na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Em seu primeiro texto sobre Palatnik, Pedrosa descreve esses aparelhos como caixas em que ele "projeta sobre a tela ou outro qualquer material semitransparente composições de formas coloridas em movimento".3 O trabalho é pioneiro no uso de fontes luminosas artificiais na arte.
Em 1953 o artista expõe novos Cinecromáticos, na 2ª Bienal Internacional de São Paulo e na 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha. O envolvimento com questões construtivas e o diálogo permanente com artistas como Ivan Serpa e Almir Mavignier levam-no a participar da criação do Grupo Frente, em 1954. Faz parte de diversas mostras do grupo. Está na primeira coletiva na Galeria Ibeu, no Rio de Janeiro, em 1954. Em 1955 participa de mostras como a do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), de Volta Redonda e de Resende.
A partir de 1959, leva o movimento para o campo tridimensional. Cria trabalhos em que campos eletromagnéticos acionam pequenos objetos colocados em caixas fechadas. Ao mesmo tempo que inventa peças com que explora as possibilidades tecnológicas da arte, o artista faz quadros em superfícies bidimensionais. Em 1962, inicia a série Progressões. De acordo com Frederico Morais, trata-se da disposição de "uma série de faixas de um determinado material em uma superfície que busca compor efeitos óticos".4Nesse trabalho Palatnik utiliza materiais como madeira, cartões, cordas e poliéster.
Em 1964, nascem os Objetos Cinéticos. O artista cria esculturas de arame, formas coloridas e fios que se movem acionadas por motores e eletroímãs. As peças se assemelham aos móbiles do escultor norte-americano Alexander Calder. No entanto, diferenciam-se deles por se mover com regularidade mecânica dentro da dinâmica planejada. Os Aparelhos Cinecromáticos são exibidos na Bienal de Veneza em 1964. A participação nessa mostra lhe dá projeção internacional e ele passa a ser considerado um dos precursores da arte cinética. Tal reconhecimento leva-o a participar, em 1964, da mostra internacional de arte cinética Mouvement 2, na Galeria Denise René, em Paris.
Em 1999, Frederico Morais organiza mostras retrospectivas de Palatnik no Itaú Cultural, em São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea (MAC-Niterói). Ele é consagrado pioneiro, o primeiro que explorou as conquistas tecnológicas na criação de vanguarda brasileira. O que Mário Pedrosa descreve, em 1953, continua valendo para a carreira do artista-inventor, que segue sua trajetória "tornando as máquinas aptas a gerarem obras de arte".
Fonte: ABRAHAM Palatnik. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.
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